Após comer as bolachinhas sem ainda pensar seriamente no percurso que estava prestes a iniciar, todavia tinha uma pequena idéia das condições que encontraria no percurso, também em virtude do pavimento ser de chão batido. Em conversa como o secretário de turismo de Urupema, foi relatado que a estrada está em processo de pavimentação e nivelada. Essa conversa revelou uma expectativa que a cidade vê para o desenvolvimento do turismo entre os municípios.
Mas, pensei que as subidas seriam um grande obstáculo e irão requerer bom controle de ritmo e boa recuperação de energia do dia anterior. Não comi muito, apenas o suficiente para apreciar a culinária serrana. As bolachas eram recobertas com goiabada de um intenso aroma, parecendo que tinham sido feitas no dia anterior, que privilégio.
Em relação ao dia, revelaram com certeza a ausência de chuva no decorrer do dia. O sol estava pouco forte, no entanto, o vento era constante, alterando o conforto térmico, acredito que a temperatura efetiva deveria estar entre 10 a 14Cº. Era um agradável dia com as nuvens brancas no céu se deslocando rapidamente, com fundo de um céu azul Terra, azul singular que sempre vejo quando estou mais ao sul.
Agora abro parênteses numa situação vivenciada durante a viagem, em decorrência dos cães. A região da serra catarinense há muitos criadores de gado, sendo uma região com forte ramo pecuário e, por conseguinte, a adoção de cachorros para auxilio nas atividades de pastoreio.
Logo na saída de Urupema observei uma corja de cães deitados na rua, ao aproximar e com o barulho da troca das marchas, disparei o gatilho para acordá-los... Como estava uma subida, estes cachorros foram atormentando cerca de um quilometro, latindo para o meu pé e me seguindo. Contudo também tive uma grata surpresa com os cães, vi na cidade um que me chamou muita atenção e levantou a cisma sobre o risco de acidente com cães, encontrei um exemplar da raça de cão que mais admiro, vi um border colie padrão, andando solto pela rua, tentei sacar a câmera rapidamente para tirar uma foto, mas não fui ágil o suficiente para registrar uma das melhores raças de cachorro que existe.
Mesmo com o estresse dos cachorros, tentei me concentrar no dia que estava apenas começando e queria iniciar bem, pensando positivo e que em breve estaria sozinho numa estrada entre Urupema e Rio Rufino.
A estrada é sinuosa, talvez concebida dessa forma para vencer as serras e facilitar a comunicação entre as cidades quando ainda o trafego era realizado por mulas.
Ao longe sempre tinha a visão de estar cercado por pequenas propriedades rurais próximo a estrada. Fiquei com pouco de vontade de visitar essas propriedades e saber um pouco das histórias destes lugares, porém em conseqüência da condição do terreno da estrada, resolvi deixar para uma próxima vez, quando tiver mais tempo para estender a visita.
Mesmo depois de 3 horas de nascente do sol, avistava gelo sobre a vegetação que estava na sombra perto dos barrancos, imagine como estava a noite?
Depois de subir a serra do morro das torres, não tive maiores subidas para transpor e que ajudou em muito, até o final do dia, seria mais difícil a pedalada caso tivesse mais serras como a encontrada no morro das torres.
Ao passar pelas chácaras sempre era recepcionado pelos cachorros poucos amistosos ao me ver, do meu ponto de vista, mantinha a calma e passava o mais rápido possível para não estressar ainda mais os cachorros.
Ao chegar em Rio Rufino percebi que os pneus estavam um pouco descalibrados, resolvi procurar um posto de gasolina para poder calibrá-los e continuar a viagem. Não percorri o centro de Rio Rufino, foi uma estadia muito rápida que não deu para perceber muita coisa, a não ser que é uma cidade pequena mesmo, porém bem aconchegante.
Após 4 horas de pedalada naquele sol agradável comecei a sentir fome e também a observar com maior atenção o ôdometro e os prováveis locais onde poderia parar e preparar o almoço. Percebi que existem pontos de ônibus ao lado da estrada e não haveria problema algum em parar e fazer as refeições naquele lugar.
Depois de vencer uma pequena subida com muitos pedregulhos tive vontade mesmo de parar e reabastecer as energias. Parei em uma dessas paradas de ônibus e preparei mais um macarrão instantâneo, agora com sabor de legumes, além do macarrão também fiz um caldo de mandioquinha para acompanhar e fortalecer a refeição e para terminar preparei um suco em pó concentrado de uva.
Ao finalizar a refeição estava observando que o alforges e acessórios estavam um pouco desarrumados sobre o bagageiro, então desmontei tudo e refiz as amarrações novamente para garantir que não havia mais a grande intensidade de vibração provocada pelos alforges.
Foram mais duas horas de pedaladas até começar a encontrar um volume de carros que ainda não tinha visto durante o trajeto e pude perceber que estava próximo de Urubici. Tive certeza quando vários carros começaram a solicitar informações sobre a localização do morro da igreja, infelizmente não sabia prestar essa informação.
Já era 05:00pm e o sol começava a deitar atrás das montanhas e trazendo aquele ar de fim de tarde e eu já começa a ficar ansioso em chegar na cidade e procurar por hospedagem.
Ao passar por moradores da região perguntei pela cidade e disseram que estava aproximadamente a 10 minutos do local onde estava, agradeci e voltei a pedalar com mais ansiosidade. Quando era 17:20 da tarde cheguei ao centro de Urubici.
Pedalando pelo centro da cidade a procura de um hotel ou pousada, fui surpreendido por um casal de carro solicitando que parasse para que pudessem oferecer uma revista...
Bom, num primeiro instante fiquei receoso com a oferta. Será mesmo? Que revista? Então subi na calçada para dar espaço para o carro parar e sem sair de sobre a bicicleta e com o olhar desconfiado e surpreso, fiquei observando o motorista descer do carro e ir até o porta mala e retirar uma revista nova e não era daquelas do tipo amostra grátis, era uma revista novinha mesmo.
Ao coletar a revista o motorista veio até mim e gentilmente aceitei a revista e agradeci a gentileza. Conversamos rapidamente sobre a revista cujo foco são os esportes de aventura, com tiragem bimestral e circulação em todo o país. Também ficou interessado na viagem ao perguntar sobre o roteiro e a minha história com o cicloturismo, respondi muito rapidamente e fomos então finalizando a conversa com as saudações cordiais e votos de boa viagem com reciprocidade e ao final o motorista até brincou comigo em relação ao portar uma “buzina” apito preso ao pulso, disse que era para espantar os cachorros ou chamar o dono dos cães por socorro...risos.
Continuei a minha pedalada em buscar por hospedagem.
Segue relato no próximo post.
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