sexta-feira, 2 de maio de 2008

OVERTRAINING NO CICLOTURISMO


O cicloturismo tem como foco principal realizar visitas em regiões urbanas ou paisagens naturais, com objetivo de desfrutar dos contatos sociais, gastronomia e cultura e para isto, utiliza-se de bicicleta para viagens e passeios.
Durante as longas viagens de bicicleta existem diversas dificuldades de transito que desencadeiam enorme esforço e às vezes classificados de “sobre” humano. Em diferentes condições, o corpo é exposto a consideráveis situações de sobrecarga fisiológica, seja em aclives, declives, ar rarefeito, frio e calor intenso. Na falta de referencial especifico para o cicloturismo analisamos como base a atividade dos ciclistas de montanha, que gastam a maior parte do seu esforço lutando contra a gravidade, circunstância similar a encontrada pelos cicloturistas durante trafego em estradas de pavimento irregular e transportando os equipamentos e alforges (traseiros e dianteiros). As condições também podem ser agravadas em conseqüência da umidade, fatores emocionais e os aspectos de saúde e alimentação no momento.
A viagem de cicloturismo costuma ser desenvolvida em média por períodos de dois dias, na maioria das vezes aos finais de semana, onde às horas ao final da jornada ficam em torno de 4-6 horas em média de deslocamento.
No entanto as viagens longas de bicicletas são comuns entre os cicloturistas, essas viagens chegam a durar semanas, meses e anos, nessas ocasiões os cicloturistas chegam a percorrer continentes inteiros em condições ambientais diferenciadas. A capacidade de realizar uma viagem de cicloturismo esta relacionada a dois princípios biológicos, a individualidade e a sobrecarga. A individualidade biológica representa a forma como ocorrem as respostas diferentes nos indivíduos em relação à mesma exposição da viagem. Enquanto a sobrecarga descreve a adaptação do sistema corporal em virtude da demanda crescente de carga, freqüência e tempo, e que podem agir simultaneamente ou de forma única entre os fatores.
De modo prático, a manutenção do ritmo de um grupo de cicloturistas depende da condição física de todos, seja com faixa etária, gênero, condicionamento fisico diferente, pode haver ocorrencia de queixa devido cansaço demasiado, seja pela intensidade submáxima aos individuos mais aptos ou máxima àqueles praticantes inclusos nos fatores descritos acima no texto.
Teoricamente o overtraining pode estar relacionado, principalmente a praticantes inexperientes, em conseqüência da falta de preparação física mínima, enquanto os demais praticantes, são acometidos possivelmente devido a restrição adequada de alimentos saudáveis, falta de conhecimento ou planejamento da nutrição complementar ou até mesmo baixa poder aquisitivo para compra de alimentos adequados.
O overtraining pode ser definido como sendo a condição na qual as pessoas apresentam decréscimo do desempenho, apesar do treinamento ou esforço ser continuado ou até mesmo aumentado. Após semanas pedalando bem, com força e resistência, inexplicavelmente a condição fisica do cicloturista começa a apresentar fadiga intensa e falta de recuperação, refletindo na reduzir a quilometragem, velocidade e força para atingir o objetivo diário da viagem.
Os relatos e experiências empíricas coletadas entre os praticantes dessa modalidade sugerem supostamente a possibilidade de haver ocorrências comuns do overtraining no decorrer da viagem. Especificamente na atividade, pode ocorrer redução da quilometragem mesmo em boas condições, dificuldade de repouso e sono, mudanças bruscas de comportamento e maior índice no número de gripes, resfriados e infecções gastrointestinais.
As capacidades físicas do cicloturista devem ser trabalhadas abordando tanto exercícios específicos como os gerais. Os exercícios específicos devem apontar para o implemento da produção de força e resistência muscular localizada dos braços, tronco e pernas, além da prática de alongamentos. As atividades aeróbicas devem priorizar a capacidade submáxima aeróbia, entre 40-60% do Vo2máx entre 60 e 70% da freqüência cardíaca máx. Durante a viagem deve ser utilizados ciclocomputadores para auxilio e mensuração da distancia, tempo e velocidade. Esses dados são importantes para o planejamento futuro e contínuo da viagem quanto adoção de paradas para alimentação e repouso. Os aparelhos de telemetria cardíaca são ótimos instrumentos de uso para o acompanhamento do esforço físico durante a viagem, como por exemplo, determinação da freqüência cardíaca média, máxima e zona alvo de esforço.
A nutrição no decorrer da viagem deve ser balanceada para promover boas condições de fornecimento de energia durante a atividade e o repouso. Os nutrientes mais comuns são conhecidos através de sua composição e devem estar presentes em todas as refeições, os açucares e amido (carboidratos), os aminoácidos (proteínas) e as ácidos graxos livres (gorduras).
O complemento alimentar também poderá contribuir na recuperação da fadiga e restauração muscular. Existem no mercado vários produtos de nutrição esportiva com objetivo de fornecer especificamente de energia a baixo custo metabólico gastrointestinal (maltodextrina, frutose e dextrina), reconstituição muscular (BCAA) e oferta de sais minerais (cálcio e sódio).
Para melhor esclarecimento no assunto é recomendado o auxilio de uma nutricionista especializada em nutrição esportiva, responsável em planejar as quantidades e substancias favoráveis para o cicloturista.
Os cuidados são intensificados durante as viagens solo, em virtude da própria condição de exposição. As pausas de dias em casos mais extremos de fadiga e problemas gastrointestinais devem ser utilizadas como forma de recuperação do corpo. Durante o planejamento o cicloturista sugestivamente terá que apontar roteiros priorizados para repouso e alimentação adequada em conseqüência das condições ambientais da atividade.
A viagem de cicloturismo deve ser encarada de forma prazerosa de estar praticando a atividade física em ambiente natural, ao contrário do comportamento extremo por viagem com grande sobrecarga física, estas deverão sempre, ser realizada mediante um bom planejamento. Encontrar um ritmo confortável de pedalada e fazer paradas destinadas aos descansos e as fotos, são aconselháveis para redução da temperatura corporal, hidratação e reposição alimentar.
Os sintomas deverão ser monitorados com responsabilidade, afim de não expor o corpo a situações ainda mais agravantes e prejudiciais ao organismo, enquanto as medidas de controle de overtraining no cicloturismo têm papel fundamental durante a viagem e deverão ser compreendidas pelos praticantes, com maior interesse.

Vanderson Cleyton
Profissional de Educação Fisica/Ergonomia
CREF 008691 G/PR


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