quinta-feira, 18 de junho de 2009

CICLOTURISMO PELA SERRA CATARINENSE: PARTE 01


AMANHECER EM URUPEMA





ÁGUA ENREGELADA DE MANHÃ


AUTO RETRATO



Uma viagem de cicloturismo solo há necessidade de muito planejamento do percurso equipamento e os aspectos financeiros adequados.

Nos últimos anos deixei o cicloturismo um pouco de lado em vista da minha formação profissional no mercado de trabalho, porém nunca deixei de ler, escrever no blog e participar de grupos virtuais de pessoas que compartilhar a mesma vontade.

Desde a última viagem entre Sengés e Itararé comecei a planejar a viagem que teria feito a cinco ou seis anos atrás, queria que tudo saísse da melhor maneira possível, desde a mecânica da bicicleta, a carga que transportaria e o percurso que poderia fazer para conhecer o maior número de localidades e paisagens.

Inicialmente, depois que voltei de Sengés uma das primeiras coisas que fiz na quarta feira dia 22/04/2009, foi pegar o calendário e verificar qual seria o próximo feriadão do ano e logo vi o dia de corpus christs, ainda faltava mais de um mês e teria a tempo suficiente para organizar os equipamentos e planejar o percurso.

Após verificar o feriado imediatamente veio a pergunta na minha cabeça “qual percurso? Muitos roteiros vieram em mente, desde percursos na estada real, conhecer Prudentópolis, serra catarinense ou gaúcha.

Depois de eliminar a estrada real devido ao motivo de estar longe e requerendo muito recurso financeiro durante a viagem. Já Prudentópolis é uma bela região de cachoeiras, porém ainda penso em conhecer num clima mais ameno, principalmente no verão, aproveitando para realizar atividades aquáticas.

Para a serra gaúcha também o fator financeiro também bateu mais alto, no entanto, não ficaria muito mais alto quando comparado a viagem que realizei para a serra catarinense, mas para a serra gaúcha os recursos ficariam restritos em relação ao que realmente gostaria de fazer, como conhecer vinícolas e degustar vinhos e a gastronomia da região, nesse sentido a serra gaúcha também ficara para outra ocasião.

Restando a serra catarinense, não menos pela eliminação de roteiros, mas era a que realmente estava querendo percorrer em virtude dos bons roteiros, como a serra do corvo branco e rio do rastro e também pela gastronomia e vinhos de altitude.

Para formulação do roteiro comecei a pesquisar na internet as cidades e paisagens da serra catarinense, logo identifiquei um artigo citando a serra catarinense como a Sibéria brasileira, para muitos seria uma informação que mudaria o roteiro, mas particularmente gosto do clima frio ficando seduzido ainda mais.

Outra imagem que fiquei entusiasmado foi ver as imagens da serra do rio do rastro, uma das paisagens mais espetaculares que percorreria, restando apenas definir qual seria o trajeto, sentido litoral serra ou contrário.

Como não estou bem fisicamente e o tempo disponível para a viagem ficaria restrito para uma subida da serra, logo defini roteiro que conseguiria inserir no tempo da viagem e sem restrição de visitas as cidades da serra, saindo de Lages até Tubarão.

No dia e hora marcada estava desmontando a bicicleta e embarcando para Lages, seria cerca de 05h30min entre Curitiba até Lages, onde iniciaria a minha pedalada. Por volta das 05h: 40min desembarquei na rodoviária de Lages e logo também senti o clima frio bater no rosto ao descer do ônibus.

Comecei então a montar a bicicleta e instalar os alforges e logo as pessoas deferiam olhares interessados sobre a minha atividade solitária. Depois de algum tempo apareceu um sujeito simpático dizendo que também era ciclista e estava interessado na minha história de naquele momento, conversamos um pouco e logo ele se foi, embarcando no coletivo.

Um tempo depois, ocorreu uma situação que levaria a uma tomada de decisão que poderia mudar o rumo da viagem. Ocorreu que durante a arrumação dos alforges e da bicicleta em casa, num momento de descuido, deixei de pegar a bomba de ar e imediatamente sabia qual era o impacto dessa falha para o sucesso da minha viagem.

No agravante estava em pleno feriado de corpus christ e não seria nada fácil conseguir comprar uma bomba de ar numa bicicletaria da cidade. Busquei informações entre alguns ciclistas, porém sem grande êxito, pois realmente as oficinas estavam fechadas.

Fiquei cerca de 2 horas em Lages pensando no futuro da minha viagem, onde poderia pernoitar em Lages e adquirir a bomba no outro dia, seguir adiante e ficar exposto a passar dificuldades na estrada ou procurar uma bicicletaria de bairro, onde geralmente o proprietário tem uma sobreloja ou comércio na frente de casa.

Realmente não passava pela minha cabeça seguir viagem estando vulnerável a parar no meio da estrada diante de um simples furo de camara com todas as ferramentas e acessórios para o remendo.

Após pensar e repensar sobre o andamento da viagem, decidi seguir viagem mesmo sem ter a bomba de ar, minha estratégia seria tentar conseguir adquirir o equipamento nas demais cidades por onde estaria visitando, Urupema, Rio Rufino, Urubici, Bom Jardim da Serra etc. Era uma tomada de decisão que poderia causar sérias conseqüências, desde pernoitar na estrada ou ter que empurrar a bicicleta carregada por um logo trecho.

Comecei realmente a viagem eram 09h30min da manhã, saindo da cidade ainda com o forte pensamento de encontrar uma bicicletaria, meu olhar percorria além do que estava vendo, um olhar de 1000 metros varrendo todas as possibilidades de encontrar uma oficina de bikes.

Depois de alguns km ainda dentro da cidade a solução que estava procurando começou a materializar-se, ao passar por uma rua de bairro, li que havia uma bicicletaria, similar ao que estava procurando, com a loja na frente e (...) foi então que encontrei a bicicletaria do Vone, cheguei na porta de sua casa e bati palmas, já sem muito êxito estava quase indo embora quando encontrei o Vone, ele estava chegando da rua com um saco de erva mate em uma das mãos. Ao comentar com ele sobre a minha viagem e o perrengue que estava exposto, disse que não poderia me ajudar, porém poderia passar na bicicletaria do Adão que talvez encontrasse a tal da bomba de ar.

E com pensamento positivo fui até a bicicletaria do Adão, tratava-se de um Sr de aproximadamente 50-60 anos, proprietário de uma humilde bicicletaria de bairro. Ao entrar busquei cumprimentá-lo e encontrar visualmente a bomba de ar.

Perguntei ao Sr Adão se ele tinha bomba de ar para venda e afirmativamente disse que tinha de R$ 6,00 e R$ 20,00, então pedi que mostrasse e logo tinha quase o meu problema resolvido, não era lá aquelas coisas, mas para quem não tinha nada, no mínimo a bomba de R$ 6,00 seria o amuleto...

Posteriormente a finalização da venda, pude relaxar um pouco e conversar com o Sr Adão com maior tranqüilidade, disse que era portador de câncer e estava lutando com doença a anos, até aquele momento estava 1X0 para o Adão. Também se mostrou interessado pela minha viagem e até sensibilizado, ao ponto de tirar da carteira um lenço de TNT com frases bíblicas e benzidas por um padre da região. Recebi o lenço com respeito e guardei no alforge, agradecendo o presente e também procurando iniciar as despedidas para seguir viagem.

Ao retirar o peso das costas e preocupação da cabeça, o objetivo agora era apenas pedalar rumo a Painel e Urupema onde seria o primeiro local a pernoitar.

Ao pesquisar o roteiro de viagem as condições do terreno não estão expressas, no entanto tinha uma pequena noção da dificuldade de pedalar por estradas estaduais, quase sempre sem acostamento ou com a conservação muito ruim.
Ao trafegar pela estrada SC 438 tinha de adotar uma estratégia de conseguir ao mesmo tempo ter segurança e desempenho em conseqüência da má conservação do acostamento, hora pedalava na contramão ou saía para o acostamento durante a passagem dos carros, perdendo um pouco de tempo devido à redução de velocidade e manobras evasivas para o acostamento.

Durante o trajeto não havia tanto fluxo de trafego na estrada, tornando a viagem até Painel tranqüila e sem grandes dificuldades em relação ao relevo. Uma situação que chamou minha atenção foi o buzinaço produzido pelos automóveis ao passar por mim, nos primeiros quilômetros até retribuía a gentileza, independente do susto que levo quando isso ocorre, principalmente quando vem de caminhão, depois de certo tempo movimentava apenas a cabeça ou nem isso.

Desde as primeiras pedaladas comecei a observar as taipas que são as cercas arquitetadas pelos jesuítas com objetivo de confinar o gado em suas propriedades. As taipas são os muros feitos com pedras-basalto, cuidadosamente encaixadas umas às outras para resistir ao tempo, são encontrados por toda a serra.

O cenário da região é característico da pecuária com grandes áreas de pastos destinadas a pecuária de abate ou lactínea.

Chegando em Painel fiz algumas imagens por cerca de 20 minutos e logo retornei para estrada. Nessa localidade tinha duas opções de percurso pela SC 438 ou SC 439. Pela SC 438 desviaria de Urupema, Rio Rufino e Urubici, indo direto para São Joaquim e restando apenas conhecer a localidade de Bom Jardim da Serra e as demais depois da descida da serra do rio do rastro.

Já tinha decidido fazer o percurso que utilizaria a SC 439 e logo que cheguei em Painel tomei a direção de Urupema.

De cara fui pegando uma ladeira íngreme que tornaria presente na maior parte do percurso. Eram subidas intermináveis que esgotavam todas as minhas forças, sendo inclusive algumas vezes vencidas empurrando a bike.

A estrada até Urupema é pacata quase sem trafego, às vezes fiquei dezenas de minutos sem cruzar um único automóvel.

No percurso existem várias fontes de água cristalina para coleta, contudo estava bem abastecido e não foi preciso pegar mais água.

Depois de horas praticando o mantra das pedaladas serras acima, cheguei a Urupema. É uma cidadezinha com ar bucólico onde parece que as horas não passam. Urupema tem altitude média de 1.425 metros, é considerada uma das cidades mais frias do país.

Como já estava no final da tarde comecei a procurar pontos para acampar e logo percebi que existia o parque municipal da cidade, parei para verificar as possibilidades de acampar por ali mesmo, no entanto não era boa quanto parecia e descartei a situação.

Estava pensando em duas possibilidades antes de entrar propriamente na cidade, uma era seguir viagem e acampar entre Urupema e Rio Rufino e outra era ficar numa pousada em Urupema que me custaria R$ 35,00.

Ao entrar na cidade logo fui percebendo dos olhares das pessoas de espanto e interesse, continuei pedalando e encontrei o centro de atendimento ao turista de Urupema, onde o próprio secretário do turismo me atendeu, passando as dicas da cidade e as possibilidades de acampar. Citou o CTG nordeste urupemense onde poderia acampar, também disse que tinha um barracão que ficaria bem protegido para uma noite de intenso frio.

Então fui até o CTG e montei a barraca, em seguida fiz uma alimentação instantânea quente, pois estava com muita fome nesse primeiro dia e não perdi tempo em preparar uma coisa boa para recompor as energias e me deixar mais perto de casa.

Depois de comer fiz a higiene dos talheres e da panela com água quente, já que a água em temperatura natural estava muito fria. Foi nesse momento de espera para água esquentar que caí no sono com a metade do corpo para fora da barraca, quando voltei a acordar tudo estava escuro e um frio tremendo, não pensei duas vezes em coletar as coisas de valor para dentro da barraca, cadear a bicicleta e entrar no saco de dormir.

Acordei algumas vezes durante a noite devido ao desconforto de repousar no saco de dormir e no isolante térmico e também dos ruídos feitos dentro do barracão.

Depois das 05h00min da manhã realmente não consegui mais fechar os olhos e com a adrenalina pronta para mais um dia, comecei aprontar as coisas novamente nos alforges.

Quando saí da barraca para aprontar o café da manhã tive um pequeno susto, tudo estava enregelado com uma pequena superfície de gelo. Quando fui retirar a garrafa de água para esquentar percebi que a água estava congelada. Foi uma situação que nunca tinha passado e interessante experiência.

Tirei algumas fotos e aprontei as minhas coisas, montando os alforges na bicicleta. Ao sair do CTG passei pela cidade o tomei o caminho pela estrada para Rio Rufino, mas antes passei numa padaria e comprei bolachinhas para comer durante a viagem.

Postarei a seqüência dessa viagem nos próximos dias.



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